Entrevista com Suzana Singer, editora de Seminários e Treinamentos da Folha de São Paulo

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Suzana Singer é editora de Treinamentos e de Seminários, atuou como ombudsman até 2017. Trabalha na Folha desde 1987

Por Isabela Holl

Em sua coluna escrita em 2013, você abordou a dificuldade do jornalismo tradicional em compreender as manifestações. Na sua visão o que impediu esse entendimento?

Eu acho que o primeiro foi muito inesperado, devido a tamanha proporção que aquilo tomou nas grandes cidades e também teve reflexo no país inteiro. Eu acho que a mídia foi surpreendida, os políticos surpreendidos e também os intelectuais. Ninguém estava esperando uma explosão desta magnitude, com cenas impressionantes em Brasília, Rio e São Paulo, ninguém percebeu que havia esse caldeirão. Era um movimento muito difícil de cobrir porque ele não tinha líder, não era fomentado pelos os partidos tradicionais e não tinha uma pauta específica. Começou com a história da passagem de ônibus e aí cada um vinha com o novo tema. É completamente diferente de cobrir as manifestações das Diretas Já, naquela época tinha uma multidão na Praça da Sé e uma multidão no centro do Rio querendo eleições democráticas, e uma série de representantes de partidos. Já em 2013 foi muito mais disperso.

Qual seu ponto de vista sobre a busca de fontes oficiais invés de fontes não oficiais? Como a Folha de São Paulo orienta seus repórteres durante coberturas?

Depende do que você chama de fontes oficiais e não oficiais. No caso da cobertura de 2013 não teve muito isso porque mesmo o Movimento Passe Livre não se assumiu como líder do movimento, eles diziam a nossa pauta é isso, mas tem gente insatisfeita com o desemprego, com o governo Dilma, contra a corrupção… Questão de fontes oficiais e não oficiais eu acho que é diferente na invasão das escolas, porque nas escolas foi um movimento mais organizado era com quem você vai falar e quem são os interlocutores.

Em 2016 foram realizadas mudanças na cobertura visando um maior entendimento do fenômeno?

Eu acho que não para mim foi bem diferente foram fenômenos diferentes, apesar de uma participação jovem marcante nos dois. No de 2013 as discussões maiores eram: isso é vandalismo ou é um protesto legítimo. No das escolas a discussão era: é democrático tomar as escolas.

Quais diferenças entre as ambas coberturas realizadas pela Folha, em 2013 e 2016?

Jornalismo em geral têm duas coisas, primeiro a gente vai aprendendo, em 2013 nós acumulamos experiências. Então nesse sentido, sim, teve mudanças cada vez que você tem um fato novo você tem que rediscutir a pauta, o jeito de escrever diagramar e etc…

Em relação aos dias atuais, mudou algo no cobertura? Quais mudanças?

Acho que ninguém vai ter essa resposta para você, dizer “olha antes a gente fazia assim agora a gente faz assado”. A experiência vem na forma de entender o fenômeno, o fazer mesmo era de um jeito e continuou igual. Não só a atenção em como coletar a informação, mas em que tom dar para esta cobertura. Você pode dar um tom como nos protestos, destacando toda quebradeira que teve ou pode destacar outra coisa. O ombudsman é uma coluna que critica a cobertura que foi feita, então isso também traz uma reflexão a redação.

O jornal cedeu mais espaço e relevância em suas páginas para os protestos em 2013, ou ambos períodos foram publicados com a mesma relevância? Se há diferenças, por que?

Em 2013 foi muito maior do que o de 2016. A gente achava que podia cair o governo, teve coisa que o Brasil nunca teve, como protesto violento, são dimensões diferentes.

Em sua visão, a cobertura sempre concorda com os pontos de vista da linha editorial do jornal?

A gente tem sempre isso na cabeça tem que ter pluralidade, tem que ouvir outro lado, mas muitas vezes a gente escorrega ou faz mal feito. Então existem erros, não tenho dúvida nenhuma.

Que leitura você faz sobre os protestos em 2013 e as ocupações em 2016?

Eu não vou opinar sobre 2016 porque eu não acompanhei muito bem. Em 2013 eu acho que foi um fenômeno enorme, que acabou de repente e ninguém entendeu porque surgiu e porque acabou. Também congelou a tarifa de ônibus, mas gente não precisava de tudo isso. Essa força esse descontentamento desaguou no quê? Eu não sei, acho que é uma coisa que ainda tem que se estudar. Já o de 2016, pelo que eu li, acho que provou que não dá para fazer mudança à força sem discutir. Toda essa história porque o remanejamento em si não era um grande problema, os especialistas falaram que tinha que fazer, tem ociosidade aqui, falta lá mas não dá para você baixar uma norma sem avisar a comunidade e sem discutir, precisa de diálogo.

Qual a sua visão em relação jornalismo alternativo e o jornalismo tradicional em relação à cobertura de fenômenos como as manifestações?

A imprensa alternativa foi muito importante naquela época dos protestos. Nos dois momentos havia uma má vontade, uma agressividade em relação à imprensa. Em 2013 era escancarado, os repórteres da Globo não podiam trabalhar. O de 2016 eu acho que teve tensões também, em menor grau, tinha uma coisa de não deixar a imprensa entrar nas escolas. Então a mídia alternativa lá foi importante porque eles estavam do lado dos manifestantes, eles mostravam uma outra visão. Eles tinham um lado na história eles não estavam lá como jornalista neutros. Eles estavam acompanhando dos manifestantes e tinham posição privilegiada, faziam longuíssimas transmissões, eu acho que contribuiu bastante.

Em relação a entender o fenômeno você acredita que a Mídia Radical tinha maior facilidade por estar mais perto?

Acho que ambas as mídias não conseguiram entender o fenômeno, eu não vi na Alternativa boas explicações sobre o que estava acontecendo.

Qual sua contribuição dentro do jornal?

Eu sou editora de Treinamentos e Seminários, todo mundo que entra na Folha passa por alguma seleção e isso passa por mim. Muitas pessoas que a gente traz começam como trainee, a gente faz dois concursos grandes e participam pessoas do Brasil inteiro. Essas pessoas são treinadas por quatro meses para trabalhar na Folha. A parte dos Seminários são grandes eventos, debates, coisas da área cultural e pré-estreias de livros. Estou aqui desde 1987.

Como é organizada a hierarquia dos cargos na Folha de São Paulo?

Tem o diretor de redação, o diretor executivo, dois secretários de redação, essa é a Cúpula do jornal. Cada editoria tem um editor, um adjunto, os repórteres e redatores. Também tem uma editoria de primeira página que tem dois secretários de redação, um que determina o que vai ser pauta e outro que faz o fechamento do jornal. Ele que determina o que vai ser manchete, qual vai ser a foto da primeira página e quais vão ser os principais assuntos. A Cúpula do jornal influência muito. O repórter tem liberdade para sugerir pauta.

A Folha de São Paulo realiza monitoramento das redes sociais como uma ferramenta de busca para novas pautas?

Sim, a Folha de São Paulo faz monitoramento de rede social e às vezes a própria Rede Social vira notícia. Cada editoria tem uma estratégia, mas monitoramos basicamente Facebook, Twitter e Instagram. Em 2013 já tinha isso, mas não se deu a importância que deveria.

Em quais plataformas são veiculados os conteúdos produzidos por sua organização?

As plataformas utilizadas pela Folha de São Paulo são o jornal impresso e online. Tudo que sai no impresso sai no online em formatos diferentes e é fechado para assinante.

Quais equipamentos são utilizados durante a cobertura dos acontecimentos?

Quem faz a cobertura da Folha é um fotógrafo e um repórter. Filmagem é quando dá, pois não temos câmera que filme suficiente. Repórter utiliza gravador ou celular e o fotógrafo a câmera. Às vezes acontece do repórter fotografar, mas não é costume, quando ele passa em um local e tem um flagrante ou alguma coisa do tipo ele tira uma foto com celular, tanto em 2013 quanto agora.

Qual é o alcance das plataformas?

A circulação do impresso 281 mil e a audiência é por mês de 28 milhões de visitantes no online.

Há edição de fotos? Por que?

A gente não modifica a foto, às vezes corrigir um foco, o mínimo. Também cortamos a imagem quando necessário.

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Mídia Radical x Mídia Empresarial
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Written by Mídia Radical x Mídia Empresarial

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Divulgação das entrevistas do protejo de iniciação científica, cujo objetivo é comparar as coberturas de protestos feitas pelas mídias radicais e empresariais.

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