Entrevista com Giselle Hilário, editora-chefe do Jornal da Cidade (JC) de Bauru

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Giselle Hilário é editora chefe do JC desde 1997 e também assina como jornalista responsável pelo jornal

Como é feita a cobertura de acontecimentos?

Em 2013, os protestos começaram em nível nacional, então a gente tem dois tipo de cobertura diferentes. Em relação noticiário nacional, a gente recebe via agência de notícias, começou lá e veio para o interior até que várias cidades tiveram a sua cobertura. Então a pauta a gente recebe de fora, como qualquer outro acontecimento, nós recebíamos as informações de que ia ter protesto e a gente organizava a nossa cobertura levando em consideração essas manifestações. A gente tomava alguns cuidados, como lá em 2013, até mais do que em 2016, ficou muito latente aquela questão de quem é petralha, quem é coxinha. A gente dava orientações para os nossos repórter para não virem caracterizados de modo que demonstrasse o lado deles. Não que a gente não tenha lado, cada um tem seu próprio lado, mas na hora da manifestação eles estavam trabalhando como repórteres do Jornal da Cidade. A gente tem uma editora de pauta que agrega todas as informações que chegam, ela tem uma agenda de pauta que ela organiza, de acordo com o dia e o horário. Depois fazemos uma reunião de pauta onde é discutido o que vai ser produzido para aquele dia e o que vai ser produzido ao longo da semana. Se a gente vai fazer uma matéria avisando que vai ter a manifestação, vamos elaborar então, um serviço sobre essa manifestação: onde, quando, como e porque. Para as pessoas que pegarem o jornal no dia seguinte também se orientarem, era assim que a gente se organizava.

A decisão da linha editorial da empresa (ou coletivo) foi feita de maneira participativa?
Não, a linha editorial do jornal é uma coisa que é definida pela diretoria do jornal.

A cobertura sempre concorda com os pontos de vista da linha editorial?

Às vezes sim, às vezes não depende muito do assunto. Porque a gente tem que dar informação para o leitor. A gente é um veículo de informação, não pendemos mais para o lado A e não pendemos mais para o lado B. A linha editorial aqui é visando a neutralidade.

Existe alguma forma de censura interna?

Não, se tem uma pauta que foge da linha editorial ela é discutida. Nunca ninguém falou para ninguém, para nenhum repórter: “você não vai fazer essa matéria porque ela não tem a ver com a linha editorial”. A gente coloca essa pauta em discussão e chegamos em um acordo, qualquer pessoa pode trazer qualquer tipo de informação para o jornal.

Há utilização de técnicas visando a objetividade factual?

Sim, a gente trabalha só com jornalistas formados e diplomados. Então eles já vêm com essas técnicas e quando chega aqui, existe um pequeno manual que a gente conversa com eles, nada muito escrito, mas a gente tem os nossos modos de escrever hora, capital e regras de caixa alta ou caixa baixa. Mas a técnica da busca pela informação e as técnicas de entrevistas é uma coisa que vem com o repórter e nós vamos inserindo ele de acordo com o nosso trabalho.

Como é a política de colaboração da empresa?
Sim, existe colaboração de outras pessoas. Se um cidadão enviar uma foto a gente publica se conseguirmos falar com o autor da foto. Quando recebemos uma foto, seja por Facebook ou por Whatsapp, a gente sempre quer saber qual é a fonte para pedirmos autorização e publicarmos essa imagem.

As pessoas de sua organização possuem o mesmo peso de decisão?
Não, em nível de redação nós temos o diretor de redação, o editor chefe, o editor executivo, os editores de área, os repórteres, os fotógrafos e os diagramadores.

Todos os produtores de conteúdo em sua organização são formados na área de comunicação?

Todos são formados em jornalismo.

Qual a sua contribuição dentro da organização?

Eu sou editora chefe e assino também como jornalista responsável pelo jornal. Em 2013, eu participava das discussões da elaboração da pauta e da produção da reportagem. Mas às vezes eu ocupo a função de editora de cadernos, por causa das férias de outros editores. Então a gente tem essa dinâmica aqui no jornal, a gente é preparado para fazer tudo, só os repórteres mesmo que são mais voltados para as áreas deles. Eu sou editora chefe desde 1997.

Os produtores de conteúdo expõem o seus vieses político em suas coberturas?

Intencionalmente o jornal não expõe, a gente entende que o nosso jornal é plural, assim como é plural o leitor do JC. Não que o repórter não possa ter o seu viés, mas não na hora da cobertura de uma matéria. Aqui ninguém pergunta para ninguém “qual é seu sexo, qual é seu gênero, qual é seu partido?” Só que o repórter tem que entender que isso aqui é um empresa e ele tem que se comportar como funcionário da empresa. A gente teve caso de repórteres nossos que durante a folga foram nas manifestações e não tem problema nenhum em relação a isso. Essa postura se mantém tanto em 2013, quanto em 2016. Mas temos a página dois que possui colunas de opinião, nessa parte temos cuidado de ninguém acusar ninguém de nada. O repórter pode escrever lá “tal político está envolvido em tal problema” é um fato, mas não dá para escrever “tal político roubou nas obras do metrô”, não podemos provar isso.

Você acredita que a internet pode ser um instrumento para a democratização do poder comunicacional?

Eu acredito, mas tem que tomar muito cuidado naquilo que se vê na internet e hoje cada vez mais. Com isso que todo mundo fica preocupado com o “furo” ainda, muita gente coloca informações em uma matéria que muitas vezes não é verdade.

Quais equipamentos são utilizados durante a cobertura dos acontecimentos?

Em 2013, eram usados gravadores e máquinas fotográficas. Em 2016 continua igual.

Em quais plataformas são veiculados os conteúdos produzidos por sua organização?

No impresso e no online. O jornal também tem uma página no Facebook, onde veiculamos algum conteúdo, mas não todo o conteúdo. Nesse período de 2013 para 2016 a gente mudou a nossa plataforma de paginação, então tem coisas que a gente consegue colocar no online que antes não conseguíamos, porque nosso programa não permitia. Mas não tem muita diferença de cobertura.

Qual é o alcance da plataforma?

A última informação que eu tive é que a gente tava na internet com 5 milhões de acessos no online.

Qual o perfil do público que acessa essa plataforma?

O público do impresso é um público mais velho e de classe B. O público do online é um público mais jovem e de várias classes sociais, a gente atinge bastante gente.

Com que frequência o material coletado é editado?

A gente não edita, isso é um crime, só temos tratamento automático de claridade. Não tem corte, não tem adição de coisas nas fotos.

Por quais motivos o conteúdo é editado?

Por tratamento de imagem, se ela estiver com granulagem ou muito escura.

Qual sua visão em relação a cobertura de 2013 e 2016 feita pelo jornal?

Eu acho que em 2013 foi mais impactante, várias pessoas participaram e era uma momento em que tudo isso era novidade no Brasil. Eu acho que em 2016, para usar uma expressão popular, não que era “carne de vaca”, mas eu acho que passou tanto tempo sem que nada acontecesse, os problemas continuaram os mesmos, a roubalheira continuou a mesma e as decisões continuaram as mesmas. Se você for fazer um avaliação, você vai ver que mudou pouca coisa, tiveram mais denúncias, mais enfrentamentos, mas se você for avaliar mesmo o que que mudou? O país continuou o mesmo, a recessão foi feia, o desemprego continua grande. Então acho que as pessoas meio que desanimaram e os organizadores, independente de lado, eles conseguiram aglutinar menos pessoas. Eu acho que a mídia desanimou também, foi na mesma toada, deu mais espaço para as denúncias e deu menos, ou seja, dividiu o espaço com as manifestações, que foram mais rápidas também, os quebra-quebras foram menores. Acho que foi isso que aconteceu, não parei para avaliar, estou falando isso empiricamente.

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Mídia Radical x Mídia Empresarial
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Written by Mídia Radical x Mídia Empresarial

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Divulgação das entrevistas do protejo de iniciação científica, cujo objetivo é comparar as coberturas de protestos feitas pelas mídias radicais e empresariais.

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