Entrevista com Giovana Sanches, participante da Mídia Radical de Bauru

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Giovana Sanches foi administradora da página no Facebook “Movimento Estudantil Secundarista de Bauru”. Em 2016, ela participou da ocupação na Escola Estadual Stela Machado, da qual era aluna.

Quais eram os motivos dos estudantes estarem ocupando a escola?

A princípio em 2015 tivemos a greve dos professores, em relação ao salário, que os estudantes apoiaram. Logo depois veio a proposta de reorganização, aí nós fizemos várias manifestações contra porque a gente achava que não era o melhor para escola no momento. Então vimos as ocupações em São Paulo e decidimos ocupar também.foi muito bom. O Stela parou de ser uma escola tradicional para começar a ser uma escola de pessoas que se importam, tanto politicamente quanto socialmente.

Como era organizada a ocupação?

O Movimento Estudantil de Bauru existe faz um tempo, desde 2014, o que é considerável. Como já havia um movimento dos estudantes, já havia um contato entre as escolas. Para ocupar foi uma questão de decisão, mas a gente já tinha o contato entre nós. Cada escola se organizou com seus estudantes e viu qual era a condição.

Como vocês faziam a cobertura dos acontecimentos?

A cobertura era toda feita por celular, como a gente tinha um dinheiro que as pessoas doavam, a gente colocava crédito.

Com qual intuito vocês realizavam as publicações?

As publicações eram feitas para alcançar mais pessoas, muitas pessoas sabiam que a gente estava ocupando mas não sabiam o porquê. Como foram feitas muitas denúncias contra a ocupação a gente queria mostrar um outro lado, tem vários vídeos da gente limpando o banheiro e da gente cuidando da escola. Como fomos muito difamados na internet também queríamos usar a internet para mudar isso.

Como vocês decidiam o que seria ou não publicado na página do Facebook?

Para selecionar o que iríamos publicar a gente tinha um filtro de como isso iria repercutir na mídia ou como as pessoas iam ver, em geral. A gente tinha esse filtro, por exemplo, se íamos tirar fotos dos alojamentos, a gente não achava legal tirar fotos deles bagunçados porque isso poderia gerar mais conversa. A gente queria manter uma imagem bonita da ocupação. A gente também compartilhava informações de outras ocupações, para mostrar que não era só no Stela Machado, haviam outras ocupações que talvez precisassem de ajuda. A gente compartilha até hoje em uma questão de resistência, de estar fortalecendo e fazendo com que as pessoas vejam.

Quem e quantas eram as pessoas responsáveis pela página do Facebook?

No Movimento Estudantil em geral tinha em torno de 9 escolas e havia dois de cada escola para administrar, nós organizamos desta forma porque seria bem democrático e cada um poderia postar o que estava acontecendo dentro da escola dele.

As pessoas que faziam parte dessa cobertura eram todas estudantes organizadores da página ou existiam mais pessoas colaborando com a cobertura?

Só estudantes administravam a página. O movimento era feito só por estudantes porque era uma causa nossa.

Os organizadores da página se dividiam em funções?

Então, cada um tirava foto da sua escola e escrevia sobre a sua escola. A gente não tinha uma divisão de tarefas nesse sentido.

Todos os organizadores da página do Facebook possuíam o mesmo peso de decisão?

Sim, a gente decidiu como tudo seria postado em uma reunião do Movimento Estudantil com todos presentes, não só os administradores, porque nós administradores só estávamos representando os outros estudantes. Então tudo que seria postado era conversado em reuniões do Movimento Estudantil para ser o mais democrático possível. Nessas reuniões a gente também decidia como iríamos organizar os atos, a gente estipulava quem iria falar com a mídia porque a gente sabe o quanto a mídia distorce. A gente tentava organizar esses assuntos porque a gente acreditava que isso também fazia parte da repercussão, nem todo mundo tem internet. A página, apesar de alcançar muitas pessoas, não alcançava tanto quanto à televisão ou um jornal.

Qual era o alcance da página?

A página já chegou a ter cinco mil visualizações, o que é algo muito grande para uma página tão recente, foi muito significativo porque a gente sentia isso. Na ocupação era só escrever na página “estamos precisando de óleo de cozinha”, cinco minutos depois apareciam pessoas doando óleo de cozinha. A divulgação não é só em questão de ajuda mas uma forma de alcançar mais pessoas.

Qual era a sua contribuição dentro da página?

Administrar o conteúdo da página, fazer postagem, curtir, compartilhar.

Você acredita que a internet ajuda a dar voz para quem não tem voz?

A internet com certeza deu voz ao movimento, através dela a gente se uniu com movimentos estudantis de outros estados. Isso fortalece muito, fato de você não sentir sozinho. Foi uma onda na internet gigantesca que você só via sobre movimento estudantil em todo o país.

Qual sua opinião sobre a cobertura jornalística feita pela mídia tradicional de Bauru?

Quando se trata de movimento estudantil e movimentos sociais em geral é totalmente distorcido. É bem complicado mesmo, a gente já sofreu bastante com isso da gente falar uma coisa e eles publicaram em outra coisa, de ter 600 estudantes na Rodrigues e eles falarem que tinha 100. O Jornal da Cidade sempre deu preferência a falar com a dirigente de ensino do que com os próprios estudantes, então eu não sei o quanto eles subestimaram a gente. A própria mídia e a televisão, elas tiveram uma resistência muito grande em cobrir a ocupação e quando cobriu fez de maneira bem distorcida do que era. Eu cheguei a brigar com o repórter de uma emissora porque a gente não deixava as pessoas entrarem dentro da escola, porque estava ocupado e então ele se recusou a fazer a cobertura, aí ele xingou a gente de vagabundo. Depois que ocupação acabou eles foram lá na escola filmaram um fogão sujo, falando que os vândalos deixaram o fogão sujo.

Quais equipamentos foram utilizados durante a cobertura dos acontecimentos?

Era só celular.

Em quais plataformas são veiculados os conteúdos produzidos por sua organização?

Só foi utilizado o Facebook, a gente chegou a fazer um vídeo mas ele foi postado no Facebook mesmo.

Com que frequência o material coletado é editado?

As fotos que a gente postava não havia edição. Só esse vídeo mesmo que a gente fez que foi editado, mas era uma paródia.

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Mídia Radical x Mídia Empresarial
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Written by Mídia Radical x Mídia Empresarial

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Divulgação das entrevistas do protejo de iniciação científica, cujo objetivo é comparar as coberturas de protestos feitas pelas mídias radicais e empresariais.

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