Entrevista com Alexandre Youssef, comunicador da CBN
Alexandre Youssef é graduado em Direito, possui mestrado Filosofia Política e atualmente trabalha como como produtor cultural e comunicador. Foi um dos fundadores do site cultural colaborativo Overmundo, que foi a primeira rede social brasileira. Youssef é comentarista da Rádio CBN, apresentou os programas “Navegador” e “Mundo Criativo” da Globo News. Foi redator e comentarista do programa “Esquenta” da Rede Globo e criou e apresentou o programa “Candidate-se” da Mídia NINJA. Nesta entrevista ele comenta sobre sua experiência como comunicador e seu ponto de vista sobre as mídias alternativas e corporativas.
Os conteúdos divulgados, por você, deveriam sempre concordar com a linha editorial do veículo?
Em todas as experiências que eu trabalhei, eu não tinha que abordar nenhuma linha editorial de nenhum veículo. Sempre tive liberdade, sempre foram espaços opinativos em que eu e meus colegas tínhamos liberdade para dar opiniões a respeito do que estava acontecendo. Seja sobre inovação e tecnologia, naquela época do navegador, seja como comentarista de cultura, seja, enfim, em todas as outras oportunidades. Os meus comentários a mesma coisa, eu simplesmente comentava os assuntos, tinha liberdade para escolher. Na CBN também eu tinha liberdade total para colocar as minha opiniões, a respeito de qualquer coisa relacionada ao tema da minha coluna Mais São Paulo. O Candidate-se eu divido junto com a Mídia Ninja a curadoria do entrevistados.
Como era feita a divisão de cargos na área que você trabalhava?
No meu caso eu sempre tive uma divisão de trabalho igual. Nós éramos quatro apresentadores do Navegador e nós fazíamos tudo, inclusive escrevíamos o roteiro e fazíamos as pautas, sem nenhum tipo de veto ou participação editorial do veículo.
Em quais plataformas eram divulgados os conteúdos desses veículos?
Qual o perfil do público que acessava essas plataforma?
Tive experiências focadas em vários tipos de público. Trabalhei com um público mais antenado em tecnologia e inovação na época do navegador. Na época do Mais São Paulo na CBN era um público bem amplo, devido a grande audiência da rádio. Agora no candidate-se existe também um projeto focado em renovação das novas formas de mídia.
Como você começou a trabalhar na área da comunicação?
Eu não sou formado em Comunicação, sou formado em Direito e tenho mestrado em Filosofia. Tive essa chance a partir de um grupo de amigos, que se transformaram em sócios depois que tivemos uma ideia de difusão cultural, através do site Overmundo. Foi a primeira rede social brasileira 100% colaborativa, foi o meu primeiro projeto em Comunicação, nossa ideia era essa mesma de uma plataforma de difusão cultural. Isso fez com que tivéssemos diversos outros projetos através dessa experiência. O Navegador, que era uma experiência já na televisão, foi em consequência dessa experiência lá de 2005: quando fizemos o site Overmundo.
Você expõe o seu viés político nas suas produções de conteúdos comunicacionais?
Eu exponho totalmente o meu viés político, eu só trabalho com liberdade nesse sentido. Obviamente com cuidados, mas a minha linha de trabalho é uma linha de de transparência, de posicionamento relacionado ao o que eu acredito que seja o melhor caminho. Eu tento ter uma exposição de transparência de viés político, para que a gente tenha um melhor debate político. Essa é uma linha que se tem muito nos EUA, os jornais sempre demonstram sua posição e para quem que eles estão atuando. Eu não acredito na necessidade de atuar em relação alguém, mas sim, sempre colocando causas acima de estruturas, acho importante se colocar a favor das causas e não das estruturas.
Você acredita que a internet pode ser um instrumento para a democratização do poder comunicacional?
A internet com certeza pode ter um efeito democratizador, um efeito importante na horizontalização dos meios de comunicação, já está sendo. Ela gera também um efeito muito importante na democratização, vejo ela como uma forma de alternativa. Mas também a vejo em determinados casos dos grandes grupos, grandes empresas, grandes monopólios, como um certo risco de uma ampliação de uma espécie de nova oligarquia tecnológica que dita regras, reúne dados, espiona todo mundo. Enfim, é sempre necessário fazer uma avaliação que não leve em conta somente o ponto de vista otimista, mas leve em consideração outros lados.
Como comunicador e ativista, que leitura você faz das manifestações de 2013?
Eu acho que a gente viveu e vive intensamente uma grande e grave crise da democracia representativa. Essa crise ela vem se arrastando, vem se aprofundando ao longo dos últimos anos. Ela nos dá a ideia de que de fato os políticos e a política não mais representam os anseios da sociedade. Existe aí o que o Alain Touraine chama de discurso interpretativo dominante, que é quem dita as regras do mundo e passa por cima de nuances ideológicos, tem a ver com regulamentações econômicas, que se sobrepõe aos projetos sociais e ao papel do estado. Acredito também, que existe uma transformação muito grande dos agentes e dos atores políticos. Existe uma subjetivação um processo de produção de novos sujeitos políticos, que são muito importantes, que são cada vez mais marcantes, que são retratados através dessas manifestações de minorias, desses novos movimentos sociais cada vez mais emergentes. Esses, a partir das causas que eles representam, começam a se sobrepor às estruturas convencionais que fizeram a política do século passado. Essa crise da democracia representativa tem vários fatores, têm a aproximação terrível do neoconservadorismo com o neoliberalismo, que está gerando franksteins políticos no mundo inteiro.
Os elementos que compõem, então, esse cenário e crise da democracia representativa estão vinculados às manifestações de 2013 e com as manifestações ao redor do mundo. As quais aconteceram naquele período: Primavera Árabe, Occupy Wall Street e as Acampadas na Espanha. Eu acho que existe então, esta extensão que gera, cada uma com uma tipo de fagulha, cada uma com tipo faísca, esses processos de manifestação. Claro, que tudo isso tendo como um fortalecedor a revolução tecnológica, que cria as plataformas capaz de impulsionar novas formas de protestos, numa dinâmica bastante intensa, que coloca gente na ruas, que tenta naquele período gerar mudanças. Essas que na maioria dos casos não se concretizaram, alguns criaram coisas interessantes, outros chacoalharam as estruturas institucionais, mas não criaram mudanças significativas.
Que leitura você faz das novas formas de divulgação de conteúdo surgidas naquele ano? ex: Coletivos como Mídia Ninja e de cidadãos engajados nas manifestações
A participação de novos coletivos de mídia é fundamental. O engajamento desses novos coletivos e a abordagem que eles trazem como cobertura dessas e também as novas formas de atuação política são fundamentais. Porque talvez eles estejam entrelaçados com as causas que estão sendo colocadas. Repito aqui um conceito muito importante, que é quando se tem causas acima de estruturas, ou seja, questões, demandas sociais, demandas de novos sujeitos políticos acima de estruturas de interesses partidários. Tudo isso está vinculado com o sucesso, tanto do movimento, quanto da própria cobertura que essas mídias alternativas, esse olhar pessoal e presencial que a internet através desses coletivos nos proporciona.
Como comunicador e ativista, que leitura você faz das ocupações de 2016?
Em 2016, não tenho a menor dúvida que essas ocupações se configuraram num dos principais movimentos políticos de levante da juventude, diante desse diagnóstico que eu descrevi sobre 2013. A ocupação seria então, uma maneira absurdamente efetiva e concreta de luta pelo direitos que estavam se perdendo no cenário de crise generalizada de crise da democracia representativa. Na qual o agente sente necessidade de estar pessoalmente ocupando o território, ocupando e fazendo valer a sua própria luta. Uma vez que a gente não tenha, então, a capacidade da representação política tal qual tinha anteriormente
Como você enxerga o cenário político atual?
Sobre o cenário político atual, eu acho que nós estamos vivendo o pior momento, o momento do fundo do poço. O momento de um assalto ao estado realizado pelos assaltantes que sempre chantagearam governos que foram eleitos, chantagearam no sentido de terem a maioria na câmara para aprovação de projeto. Chatagearam desde a época de FHC, passando por Lula, passando por Dilma e agora eles se apropriaram do poder central. Eles surrupiaram a legitimidade do voto e se apropriaram do poder central, fazendo com que quem antes chantageava agora detém as rédeas. Isso gera uma crise institucional sem precedentes, uma crise que realmente põe em risco nossas instituições, mas que também abre uma janela de oportunidades. No sentido de que as investigações e as necessárias ações de combate à corrupção também se expõe todo o sistema, se desnuda toda essa relação promíscua que fazia a política brasileira e fazia esse presidencialismo de coalizão ficar tão vulnerável às práticas de corrupção. Então é uma janela de oportunidade no sentido da renovação da política, do necessário ingresso de agentes que não estão na política. Acredito que esse cenário só vai conseguir ser mudado se nós de fato tivermos um ingresso de um número considerável de pessoas, que possam ser candidatas a deputadas ou deputados, que possam renovar o congresso nacional. Acho que a chave da renovação política passa pelo congresso nacional. Sobre a presidência da república creio que é necessário um processo de extencionamento ou de uma candidatura proponha o distensionamento. Porque acho que o Brasil está exausto da polarização, exausto de uma briga, de uma confusão sem fim, em que entramos. Creio que o melhor seria um processo de pactuação nacional, de união nacional em torno de uma agenda de inclusão social e de combate à desigualdade. Para que a gente possa ir para um processo de revolução educacional no Brasil, para que a gente possa enfim seguir uma trilha diferentes dessas que a gente seguiu nesses últimos períodos.